quarta-feira, 5 de outubro de 2011

[ de ventos imaginários ]

(1)




réstias


palavras antigas arrastam tempo . signos me perseguem: movimentos de vácuo . estrelas me aproximam de teu brilho fosco . manhã aborta teus desesperos mais sutis . no descalabro da cidade perdes teu sonho de menino .

30.09.2011




vento


vestida de imaginário
arquiteto nossa praça
lá, valsas como quem amas


brisa me leva ao passado
nas escadas de um coreto
vestido branco e foto perdida


hoje teço lembranças com fios recentes
meus sapatos colorem a estrada
nela vamos juntos uma vez mais


madrugada nos espreita em frio
dentro da noite: encontros
não há mistérios... só vaticínios e, nossos passos

23.09.2011




mecenas


gestor -  meus carinhos
amante - meus pensamentos
domador - meu corpo


contemplador - meus sonhos
estranho observador
morador em mim


estrela cadente me leva
apaixonado - meus sorrisos
viajante - minhas.nossas memórias


condutor - meu trem imaginário

gosto de rever meus arquivos . também são teus e alheios . a cada "documento", aromas e músicas nos envolvem - presentes .

21.09.2011




atenta


grilo canta noite e meu amor
vagalume nos acende: íntimos segredos
umbuzeiro nos esconde de assombração


velas aquecem luar minguante que passa por nós
estalos mato a dentro
rastros de cobra - entardecer


frescor incita viagens
nosso trem ainda não partiu
e já estamos lá

20.09.2011




paisagem

flores na paisagem
limo verde.mar
suspiros, passado


ecos pele.a.pele
rotas q’ ultrapassam: mar
sentidos avançam
nossa insensatez


respingos: sentimento alheio
poças de lágrima - nós
em brilho.velho


de sangue escravo ancestral
reentrâncias de pedras nunca se lavam
ladeiras, intolerância


dor tão alheia e quão nossa
águas descem.sobem
memórias vão.e.vêm


mar, sentidos ultrapassam
sol abrasa
alma, ilusões esfaceladas

17.09.2011




aroma


muitos tempos passam aqui
agora não é tarde
nunca ainda não passou


instantes me esperam, já
há calma na cidade
vagam velhos fantasmas e ruas


é madrugada
feras caminham sorrateiras bem perto
cheiro de podre ou de mar


quente se torna em tudo
bafo se torna em nada
ar.ti.fi.ci.ais

14/09/2011




arquitetura


sonhos de ontem, sofrimento
os de hoje, vida


teço desejos em teu olhar:
percebes?


sob água quente
sertão novo
espreita


braço do rio
flerte engastado
nossos silêncios


mandacaru trepado em barriguda
lição de vida e malabarismo
estamos dentro da viagem


somos flor d' invernada
beijo de ponta.cabeça nos espera no ar
risco o abismo em furtacor


sou
seu riso despontado
no instante


à sombra do agora
espero chuva apear do galope com o vento
pra nos molhar

07.09.2011




vaga e lume


contentamento sem maquiagem
enigma que não se esconde
no corpo, morada do encontro


sei que posso viver de sonho
ainda há vírgula, distância necessária
conhecemos juntos outra forma de presença, além abraço

05.09.2011




aura


corpo se expande além de si (rumo ao outro/a), feito alma independente de morada . porta aberta ao toque . sinestesias compartilhadas pele.a.pele . convenções reinventadas no ainda irreconhecível universo dos gestos . olho finge ver apenas imagem dada . poética do olhar: insistência em compartilhar segredos, desvendar outros . por outra lógica - interlocução .

01.09.2011

 
 
(remodelados em 15/03/2017)


 
[Andréa do N. Mascarenhas Silva]
 
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(1) Imagem - http://www.flickr.com/photos/pfragoso/3039003859/

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