quinta-feira, 30 de junho de 2011

NUVENS DE SONHO REAL

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Navego nossos pensamentos como ninguém mais pode sequer imaginar.

De nossas memórias tiro algo inusitado e que não foi totalmente aproveitado quando do tempo vivido. Como um filme que podemos voltar ou adiantar o tempo, pra perceber e sentir melhor o que compartilhamos sobre pedras hoje desalentadas pela ausência. Faço do passado presente e futuro, como deve mesmo ser encarado o tempo que nos dão a viver.



Nós e um sonho que já é real. Posso acreditar no que vivemos fora do ar que todos respiram. Nosso real é invisível apenas aos olhos daqueles que não aprenderam a ver certas materialidades. O que rege esse sonho são sensações, sentimentos e uma adrenalina tão intensa que chega a surpreender. Aventura nova-diferente a cada elemento novo que nasce desse sonho. E o melhor: quanto mais sonho, mais sinto seu real, mais transpiro tua presença e mais te contagio a sonhar comigo. Isso não é só nuvem.



ROTEIRO:

Você-eu-sonho.real-sensações-memórias-aventura-tempos-nuvem.

30/06/2011



[Andréa do N. Mascarenhas Silva]




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(1) FOTO: Acervo particular da autora.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Nada?


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Nada. Mas há dentro desse espaço ao menos um eco de mim que se expande e chega até você.


Repare: aliás os espaços enganam, ainda mais se forem os recônditos, os ermos, os de segredo.



passo a vida pelo teu avesso

e sei que nunca é quase nada

rodopio em meus ais



um concerto onde bailo com vendavais

e no salão

nada além de você ou o nada, além de você



respingos de nossas memórias inventadas

dão exemplo desse espaço cheio de vazio

nada e ninguém nos roubam isso



é tino preencher os espaços

a humanidade é dada a isso

pontes e pontes sobre abismos



registro mesmo assim meu desatino

não sem certezas do feito

e sim, sem o tom de absoluto que está fora de mim



Não quero essa lírica exata, pintada de razão em várias cores. Solto as rédeas das palavras. São potros livres e aqui podem tudo. Selvagens em talhe sóbrio: não, não combinam. Remendo estes versos com prosa frouxa, para além da exatidão, em fuga dos dicionários. Encontrei palavras trêmulas, escondidas no nada. Lá haviam um.sem.número de imagens, precipitando-se já em quase fantasmas. Não resisti e lancei mais uma ponte possível e de lá puderam sair radiantes. O nada é quase tenebroso, não fossem os apelos de ninguém e de nenhum.


09/06/2011


[Andréa do N. Mascarenhas Silva]



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(1) FONTE da imagem: http://2.bp.blogspot.com/-1rw3bLqsF1w/TW1NuYpR9XI/AAAAAAAAARM/cVf5I3NPsSk/s1600/darkness-forest-night-image-31000.jpg

sexta-feira, 3 de junho de 2011

entre possível e inusitado

 

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meu barquinho envelhecido

parte da interseção do horizonte

e tenta chegar em águas de novidade



salto contra a gravidade

invisto no impossível

no mínimo faço instantes inusitados



não gosto de um só suporte

do papel ou da página em branco.só

escrevo agora pelo avesso



As vezes penso em lírica subalterna, em verbo sempre no masculino a imperar ordens sobre o que escrevo e lembro de Bachelard, quando fala de sua busca pelo feminino das palavras. Então acalmo a pena e esqueço as tradições. Quero escorrescrever ou escrever em volteios escorregadios, sem deixar nenhuma rédea me guiar. Deixo a lírica ir à frente, para saltar sobre seus rastros e compor os meus no rumo que quiser. Os desenhos que minhas palavras formam ainda são hieróglifos pra mim. Não posso decifrá-los todos e nem quero. Há espaço no que escrevo para uma poética sem fim, feita de leituras alheias e de leituras que escrevem em outros idiomas e tintas.



rasgo de insensatez

estranha lucidez

quero assim minhas palavras





                                                                                                                    interseção

 

[Andréa do N. Mascarenhas Silva]


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(1) FONTE DA IMAGEM: http://www.flickr.com/photos/ljkay/3691323794/in/photostream