segunda-feira, 23 de julho de 2012

[nascimento de azuis]



 (1)




| nascimento de azuis |



.atmosfera

cálida nostalgia de um quase dia  
lembrança de retratos anteriores  
luz rarefeita: paisagem

.enredo

vestido crescido, molhado
luz menina em pele fria
cor de areia sem contraste
parca luminosidade ou sol prestes a nascer

.conflito

passos acelerados
ausência de causa
vibrante coração vazio

.prece:

aurora pressente grito

.desfecho

espetáculo-luz
ensaio e
tímido bailado
espelho d’água e/ou céu

.sentimento

antes do cinza
intenso dourado e
teus azuis ofuscados

: dilema





(versão atualizada em 25/07/2018)


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.atmosfera.

cálida nostalgia de um quase dia . lembrança de retratos anteriores . luz rarefeita pela paisagem .



.enredo.

pelo vestido crescido e molhado deixava passar luz menina . pele fria se confundia com a cor da areia sem contraste . faltava a luminosidade do sol prestes a nascer .



.conflito.

passos acelerados sem causa . coração vibrante em meio a tanto vazio . prece e aurora pressentem seu grito .



.desfecho.

espetáculo de luzes ensaiam tímido bailado entre espelho d’água e céu .



.sentimento.

deixar de ser cinza pra ser intenso dourado e ofuscar teus azuis . dilema .





23.07.2012

 
 
Andréa do Nascimento Mascarenhas Silva
 
 
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terça-feira, 17 de julho de 2012

[chuva e fogo]



(1)




minhas dores se sujam de frio . anoiteço em nosso tempo impreciso, diante de uma janela nova por onde vejo ontem e amanhã . passo sobre nossas veredas tristes com sentimento gélido, anterior à tristeza de hoje percorrê-las só . gotas do céu refazem na face o percurso de lágrimas já secas . áspero sofrer que agora se derrama entre água e lama . alentos me sustentam nesse chão forrado não só de nuvens . certeza de torrentes apenas do lado de fora . dentro, alimento lareiras com imagens que nunca se queimam . somos chuva e fogo inconsumíveis nos entrelaces desse sertão .



17.07.2012

 
 
Andréa do Nascimento Mascarenhas Silva
 
 
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(1) http://tiagocostailustra.blogspot.com.br/2010/05/ilustracao-para-o-texto-chuva-de-fogo.html - Ilustrador: Tiago Costa

quarta-feira, 11 de julho de 2012

[convite]



(1)



meus pés convidam teus pés ao mar . princípio da noite, barra molhada pela chuva que irriga nossas memórias . depois de um banquete de versos, de estradas e distâncias, cumprimos nossa lei . ouvir nossos corações bem próximos, (re)encenar o espetáculo dos toques não mais disfarçados em quase engano . nossos pés já conhecem o traçado de nossos desejos . criamos um entre.lugar: real.imaginário . água salgada só nos fará bem lembrar de mais esse enlevo . sei lá estar .


11.07.2012



Andréa do Nascimento Mascarenhas Silva


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terça-feira, 10 de julho de 2012

[caminho noturno]




(1)










noite fria me traz alento: penso em você acordado, lá pelas tantas, recordando outras noites frias, nossos passos lado a lado, quase madrugada . crescemos na distância e o tempo se faz de nosso amigo . posso ver você no exercício de outras dimensões, na labuta de novas poéticas mais ou menos existenciais . não perco o riso pela saudade . teu cheiro ainda invade a casa da memória... onde vivemos . vamos celebrar a imensidão que nos une e nos reserva espaços únicos pra cada instante de silêncio e sonho . escuta o rumor das horas que nos apressam para novos encontros insuspeitos: na página alheia, no recado do amigo, na carta escrita por outrem, nos versos de poetas imortais . alinhamos nossos tempo ao sabor dos toques: nossos ou das palavras sobre infinitos suportes . temos propósitos que não escondemos . nossa razão casa muito bem com essa falsa ilusão tão palpável .


 
08.07.2012
 
 
 
Andréa do Nascimento Mascarenhas Silva
 
 
 
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(1) http://www.apenasbahia.blogger.com.br/ - do fotógrafo Adenor Gondim.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

[luz.estação]

(1)



estação . frio passa entre nós . espaços rasgados nas calçadas . vejo a paisagem de ontem pintada no muro e me vejo em espelho multicor . na rua os tempos se encontram e estamos lá .


luz . mirantes de mim por onde sinto a alma gélida . asas de borboleta anunciam dias difíceis . alcanço um fio de luz que não me contenta . ainda não sei ler as linhas tortas de Deus . espalho tantas sombras e estas tecem meus labirintos . inomináveis são tuas palavras que mais e mais evolam sem chegar até mim . temos a chave de outro mundo em que nossas línguas são irmãs . sem altos ou baixos nosso castelo se constrói sobre cada não . ignoramos ranço e poder que não mais nos paralisam .




encontamos nosso passado deslocado de lugar . atualizamos o som das palavras velhas . uma mesma sintonia foi recobrada: da pele aos olhos, da boca ao ouvido, em novas caminhadas . 





pisamos futuro distante em ensaio marcado por uma estação completamente estranha a nós . quero elaborar planos e que soem insanos . ter a palma da mão em forma de mundo e poder ainda dar as mãos .



27.06.2012 e 04.07.2012


Andréa do Nascimento Mascarenhas Silva


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(1) FONTE da imagem: http://diariosanimais.blogspot.com.br/2009/01/joo-estao-da-luz.html