quinta-feira, 26 de julho de 2018

| 23 |







(1)



hoje é 23
e minha lembrança é menor
menos importante
mínima


hoje é 23
e também sou aquela mãe
perdida
baleada no peito
baleada fundo
no coração
baleada mas
morta.viva
baleada e
rediviva
baleada
e nano
dividida
em dor
em
se(u)m filho
em
sangue
sem bandeira
entre
estado de
sítio e
dita
dura

hoje é 23 e
minha dor
é do mundo
meu vazio
se faz pleno
de outras substâncias
de novas formas
d'amar

sim,
hoje
é
23
menos 28
e lá vão os dias.noites.madrugadas
meu-mar-de-lágrimas
sem órbita
por trás da retina
na praça
na matriz
no coreto
no balão alheio
sem alarde
quase
sem
importância

sim,
hoje é
23
eu-outra
eu-viva
eu-arquivo
eu-sigo
no susto-da-bomba
no riso.compartido
no siso.esquecido
na lida
lâmina
na rua
da
vi
da
na palavra.flor

hoje
23 e
todo tempo tremula no teu olhar
única paisagem possível
a um par sem nós


Andréa do N. Mascarenhas Silva - 23.06.2018






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(1) Foto: Rebeca Mascarenhas 







quarta-feira, 25 de julho de 2018

| e o morro? |






(1)






 
favela
quebrada
beco
ruela

e a dona de casa?

“segura a pemba
água de levante
arruda com alho
pé de pato mangalô três veis”

e a fome?

dor
espinhela
quebranto
febre amarela

e os mini.nu?

barriga d’água
febre
pereba
da.nação

senhoras, senhores: ELES não sabem o que fazem?



Andréa do N. Mascarenhas Silva - 06.04.2018


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(1) Fonte da imagem: https://i.pinimg.com/originals/02/59/e5/0259e5117032c1cf83c8dcce23f295a7.jpg