terça-feira, 25 de setembro de 2012

[avesso de um relicário]





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noite . calçada molhada pelo mesmo orvalho que umedece as manhãs . neblina estacionada diante do nariz . coreto se faz testemunha da madrugada que chega . cidade adormecida sobre sonhos . pés desgovernados se perdem em poucos caminhos . lágrima sem esperança encontra o chão . sob a copa das árvores sombras espreitam sofrimento . janelas se fecham discretamente . ao longe o galo anuncia aurora . primeiras luzes rasgam o tempo que nasce mais uma vez em dia . vestidos longos carregam e derramam segredos de cada dama apressada . xales escorregam e são contidos antes de despirem sentimentos .




25.09.2012



Andréa do N. Mascarenhas Silva





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(1) Imagem - Aquarela de António Cruz: "Jardim de S. Lázaro" - disponível em <http://fotos.sapo.pt/jorgefiel/fotos/?uid=wJSNwog6lyet8G2nicoT#grande>

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

[limos velhos]

  (1)






[limos velhos] apressados estes passos que nos ultrapassam . levezas incertas nos erram no precipitar das manhãs . alcunha de pseudos dias azuis . franco desinteresse pelo caminho . raro.efeito repentino de te saber por perto . úmida vertigem desavisada que entra em nós . de papo pro ar nessa certeza pouco fluida . sem corpo definido pra cair nessa quimera só nossa . pouco espaço de palco e somente ensaiamos destinos . alumbramentos diuturnos a nos lembrar futuros . cargas intemporais são nossas heranças coletivas . no paço, na quinta, no solar sempre nos encontraremos, apesar dos tempos . almas alhures, aquém, entre.mar . estremecemos ante o calor daquela aurora certeira e que já nos acha preparados ao instante eternizado no olhar . sombra nos acolhe: madrugada . espelho nos consome: universo inteiro . ritos quedam desenganados: somos mais e o entrelace se faz certeza de imensidão .


06.09.2012


Andréa do Nascimento Mascarenhas Silva

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