sexta-feira, 26 de outubro de 2012

[DO FALSO] - microconto

















(1)





Como podia! Indigna-se! Terá o que tanto sonha, mas... Joga-a sobre a cama impecável. Nesse ponto, combinação perfeita, como se ambas estivessem sempre prontas: dos lençóis à roupa íntima. Tudo pronto há anos. Não podia negar o contentamento. Nas faces a trama casa com uma cor de falso pudor. Desfaz-se das roupas em um instante. Não importam. Passo a mão sobre o ventre com indescritível sentimento. Penso nessa sensação e imagino-a em outro contexto. Sinto o que deveria ter realmente acontecido e me vem involuntário alívio. Tiro do bolso um saquinho e derramo sobre ela todas as moedas. Ato lento, carregado, com atmosfera inédita até ali. Qual de nós seria capaz de esquecer aquela rara beleza, de temporalidade como que suspensa. Cintilância feito chuva dá ao momento um quê de mágica e espetáculo. Em um lapso de segundo os olhos de ambos permanecem ligados e chispam. Cada um a seu modo expressa o que é possível. Eles, nós e a perplexidade.



24.10.2012



Andréa do Nascimento Mascarenhas Silva



-----------
(1) IMAGEM: http://deusnomeuviver.blogspot.com.br/2012/04/o-exemplo.html