segunda-feira, 30 de abril de 2012

[enlaces de espelho]

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urge o tempo desse agora . neblina se quer tênue ante meus olhos . passeio nos espera em madrugada próxima . criamos uma arquitetura sensitiva que nos completa em interseções insuspeitas . miramos o mesmo espelho e nos queremos liricamente, sem choques . mágica dessa hora nos arrebata para algo indefinido, ainda não nomeado, capaz de existir entre um segredo e um facho de maravilha . criamos encontros tão visíveis quanto sequer imaginados . habitamos as vias esquecidas da humanidade: cidade mais linda ao amanhecer de nossos sonhos . deixamos rastros de propósito, no dorso da liberdade . temos alvará de consentimentos que nos garante zerar os sofrimentos no caminho do deleite possível . fazemos da poesia uma esfera viajante . nômades, erramos ao extinto fim da jornada . cambiantes, fazemos acordos com nossos devaneios, para sermos capazes de existir ao menos duplamente . versos conspiram ao nosso redor, ao revelarem ao mundo nítidos reflexos das melodias que nos alçam ao nosso panteão particular . desafio quebrado pelo tempo burocrático agora ousa ser refeito . instantes eclipsados por nossos tempos domados se sujeitam a cada nova hora inventada entre nossos olhos . intervalos sinestésicos habitam nosso sono e assim sentimos o sussurrar de nossos corpos distantes, como que unidos na dimensão que somente se abre pra nós . elencar o impossível já vivido causa-me ânsias de infinito e falta-me o ar deliciosamente . imaginar se faz pele a pele, falsa distância . ficamos cada vez mais próximos quanto mais o tempo nos propõe quimera de espelho . valsam aromas nos bailes de nossa palavra sentida, que nos imprimem toques mais firmes que os reais . levitar está na condição da constância quando abrimos a hora das reinações sensitivas . no apelo de tuas mãos disfarçadas gestos escorrem sorrateiros, finos gatunos de meus princípios . com mar e saudade regemos tons em nossa prosa . agora inauguramos esse gênero sem.nome que já nasce invertido, despolarizado, em meio as leis que não toleram gênese insurgente .


30.04.2012


Andréa do Nascimento Mascarenhas Silva



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(1) FOTO: http://www.flickr.com/photos/gustavocarvalho/2415519456/in/faves-fatimapedote/


domingo, 22 de abril de 2012

[...sílabas da noite .

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[...sílabas da noite . azuis, completam voo em teu espírito . mesclam-se em outras naturezas, como a entorpecer sinas reinantes . pétalas esvoaçam em meio a teus anelos molhados em prata . neblina de madrugada, elege flores que só poderão voar entre nossos olhos . sim..., há espinhos nesse enlevo mal dissimulado . em banho de pouca luz encontro um lago de plenos sorrisos teus : esperam por minha face mais branda, ainda úmida da neblina triste . não há frio nesse instante . mero desafio, corre em paralelo a duvidar do que ainda posso nesse estio . sim, são azuis nossas frágeis poesias e reinam em cada pouso .]


22.04.2012



Andréa do Nascimento Mascarenhas Silva


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(1) FOTO: Miscelânea (Via Facebook - <https://www.facebook.com/media/set/?set=a.169560259773261.46010.157842324278388&type=3#!/photo.php?fbid=339709006091718&set=a.169560259773261.46010.157842324278388&type=3&theater>)

quarta-feira, 18 de abril de 2012

[...chuva]




















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[...] e a chuva cai, pra apagar nossa secura, pra molhar nossos olhos distantes, pra deixar nosso pesar mais leve .
[...] por entre o frescor da noite que quase não me cabe, vem chuva, alargar os córregos, despertar caudaloso pranto incontido .
[...] o presente dói e me espreita, molhado por tuas gotas incansáveis e do quarto ouço um soluço que agora sei/sai, solto no vácuo, ao encontro de ti .
[...] luz e eco desencontrados no triste lamaçal de tua esperança, cansada de perder e ser empurrada diuturnamente aos precipícios .
. descalça, encontro a noite já em tuas luas, a desfazer antigos nós .
Itinerante e mais, por bem pouco, errante [...]

chega estação despetalada, imprecisa entre sonatas azuis, mal quista

reitero nossos contornos apenas esboçados entre nossas pegadas

noite, encanto de algum passado que me absorve inteira e vem ter comigo, de mãos postas à face

rasgo um silêncio de angústia e na esquina vejo teu lirismo estacionado

não.sei.se.sei.mais entrever teus feitiços

e acabo em mim um quê de intenso, um ai raivoso, um tique cansado

obsoleta e de frágil vilania, aperto a sombra sob um arco de sono


. reinações de meu nariz, nem tanto impertinente quanto a arqueologia que espia

. pálida calma que me espanta, vem, acena à noite, estende os braços ao redor dessa distância

aceito sim e não, desde que bem resolvidos, desprovidos de transcendência

. faço um ponto mas sou da interseção e reticência .


18.04.2012


Andréa do Nascimento Mascarenhas Silva

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(1) http://29.media.tumblr.com/tumblr_lxbw07bMfX1qdopmvo1_1280.jpg

terça-feira, 10 de abril de 2012

[devaneio esgarçado]

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escrevo no limite da sensatez . busco outras lógicas, também a tua . leio um velho desafio e nos encontramos em outra esfera . largo a ordem antes do amanhecer e um pouco antes de sonhar uma vez mais . descalça, sinto o frio de uma passagem rumo aquele tempo . tempos me rodeiam feito interseção . calculo um lapso de instante em que teu sorriso conspira com teus olhos: nem tão puros quanto desconfiados . sinto teu olhar mesmo ao longe, a ativar tuas.nossas brechas de contato . não sinto a distância quando sei que a condição que nos vale passa por dentro . aí estamos juntos, no entrecho intemporal construído pela mais fina arquitetura de gestos . valso cantiga de alegria que se faz nesse sertão já úmido, advinhando nossa sina . à luz de um lume fraco.fosco paro e paira em suspenso tua presença: nem assombro nem rima . escrevo este devaneio por nossos corpos .

10.04.2012


Andréa do Nascimento Mascarenhas Silva

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(1) http://2.bp.blogspot.com/_YZAGCneZf4Q/R4tzoXTfQzI/AAAAAAAAATg/mlQzxxBRHgo/s1600-h/escrevo-te[1].jpg

quarta-feira, 4 de abril de 2012

[ bailarina de circo ]

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lembrei de uma bailarina. história que passou por mim, sorrateira. nasceu no circo, Anabele. vida era sinônimo de circo. não conheceu outras alegrias, só a da fantasia diária. acordava entre tules, meias tipo arrastão, sapatilhas que um dia tiveram brilho de cetim. ofício passado de mãe pra filha, hoje registrado na última foto amarelecida, torta, posta contra o espelho. sua mãe, Anaelis, poderia atravessar aquela barreira de espaço e tempo a qualquer hora: fugira anos atrás por motivos desconhecidos. no presente, quando tudo ia bem, o trabalho acompanhava a mudança: cidade a cidade (as vezes repetidas), animais alimentados, pagamento minguado, mas em dia. poucas novidades, apesar da aparente impressão de que a cada nova paragem algo inusitado poderia surpreender a todos. Anabele sempre confiava: algum dia poderia ser surpreendida. aos quase 20 anos a tristeza foi a causa da quebra de rotina não só em sua vida. encontraram dois cavalos e o único leão do circo brutalmente mortos, àquela manhã. notícias assim correm rápido: da boca aos ouvidos e destes para o jornal e rádios da região. sem esclarecimentos, o público minguava a cada tentativa de espetáculo. alvo de um afã de loucura, Anabele foi convocada para ser a atração principal das próximas noites: corda bamba sem redes... nunca um número daqueles foi sequer cogitado. passou a tarde trancada, apenas com a pequena janela aberta. cortina se balançava ao passar da brisa. uma borboleta furta-cor arriscou um pouso em meio ao balanço do paninho trêmulo. em plena vertical alçou voo para a árvore em frente. escalou folhas, galhos e enfrentou outros ventos. de volta à janela, Anabele acompanhou de perto o matiz daquelas asas e não se surpreendeu com novo voo, não antes de um instante de encantamento mútuo. por um momento, esqueceu o desafio quase mortal que a aguardava. vestiu-se para uma ocasião especial como nunca ocorrera. os companheiros de circo notaram os detalhes não costumeiros que Anabele adicionara ao seu traje. a bailarina se dirigiu para o mastro e venceu a distância até o topo sem demonstrar o que se passava em seu íntimo. cumpriu todos os chamados do mestre de cerimônia, o dono do circo, em função de chamar a atenção do pequeno público que ali se encontrava para ver a façanha de Anabele, número sequer ensaiado. os pensamentos do mestre eram um só turbilhão: com aquela performance nunca antes arriscada quem sabe nos próximos dias a normalidade voltaria a reinar no circo. a borboleta da tarde voltou à cena: voava nos pensamentos da bailarina, que seguiu seu equilíbrio interior e, quase sem perceber, cumpriu o percurso desprotegido entre os mastros principais. arriscou-se em horizonte abissal, pois só via a rota vertical da borboleta. desceu em meio aos aplausos. a euforia desproporcionalmente maior do que o número de presentes serviu de manto à sua passagem de volta aos bastidores do circo. o mestre não pode interferir, uma vez que o andamento da ação foi melhor do que esperava. o escuro da noite foi seu cúmplice no último espetáculo de sua vida circense. em sua curta história, mais uma vez a fuga era caminho. ao final de cinco quarteirões a luz de um letreiro iluminou sua figura. bateu à porta de um antigo e ainda elegante teatro e foi recebida por um senhor. gravata borboleta, suspensórios e um sim como resposta. Anabele: primeira bailarina e professora do balé escola do Theatro d’ Aramis que, àquela manhã, havia enterrado sua grande mestra: Anaelis...


28/02/2012


[Andréa do Nascimento Mascarenhas Silva]


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(1) FONTE DA FOTO - http://meme.yahoo.com/tina20/p/zGxmcaG/

[miragem]














(1)


espelho de insensatez mal colore minhas imagens tuas
ausência dói, distância teima e apaga olhares
tenho o alento do céu.testemunha

madrigais invadem meus sentidos
nossa polifonia não se quer muda
as pedras tristes hoje estão molhadas... choro de chuva

arranho uma exclamação feliz
por entre teus pensamentos inconfessos
sei estar em ti e pronto!

contemplo minha presença - só
este céu cinza ontem mesmo trajava-se com colorido arco
respeito meus momentos sem cor

poesia que mora em mim mal conheço
vive escondida no prédio da memória
toma sol, clarão de lua e bebe o cheiro de meu chá

chuva e cinza combinam mistérios que conhecemos bem
escondo minhas palavras sonolentas em frias madrugadas
mais ainda teço líricas pra você

12/12/2010


[Andréa do N. Mascarenhas Silva]



=)

SSA, 10/11/2009

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(1) FOTO: Acervo pessoal.
Poema publicado originalmente no Meme/yahoo em 12 de dezembro de 2010.

terça-feira, 3 de abril de 2012

[navegamos]

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estreitos sentidos, cinco ou seis . marés sem jeito de ir e vir . somos três vendavais de mãos dadas e mal sabemos . insanos na ventania, loucos por dentro . comunicação quebrada mesmo assim nos conecta para algumas viagens . chuva nos alenta antes dos lençóis . na manhã de cada santo.sonho acordamos ao som de passarinhos . sob o sol, esquecemos de nós . nosso elo não é somente de ligação . nossa tríade forma um quinteto elevado à decima nota . nem sempre somos tristes ou mágoa . deitamos juntos.separados e no delírio encontramos uma torpe explicação .

03.04.2012

[Andréa do N. Mascarenhas Silva]


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(1) http://adrianatribal.files.wordpress.com/2011/05/desejo-chuva005.jpg

segunda-feira, 2 de abril de 2012

estrela sem anel






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estrelas rondam a noite em que embarco . um palco formam pra me ver . noite no sertão que já toma outros ares, sobretudo por um frio de saudade . céu como rastro de sonhos que se perdem de nós . não há escadas para alcançá-los . escuro traga um pó de desatino . há devaneios soltos e dou graças por serem amigos: são como almofadas infinitamente fofas em que me deito e sou sonho . madrugada, minha cidade, espera..., vou contigo pelos sinais invisíveis aos quase tolos . réstia e sombra .

30.03.12


[Andréa do Nascimento Mascarenhas Silva]

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(1) http://nervosa-san.blogspot.com.br/2010_04_01_archive.html







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(2)


oração



praia daquele dia valsava com o mar. entre melodias de vento soltei meus lamentos. desobedeci lógicas caducas de pés molhados. areia me ensinou dito certeiro. acostumei vista e paisagem a nunca duvidar de inóspita ligação. entre nós haverá sempre um segredo prestes a se revelar. tempo que nos rodeia se faz de infinito.



27.03.2012



[Andréa do Nascimento Mascarenhas Silva]

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(2) http://poetaporkedeusker.blogs.sapo.pt/2009/07/