sexta-feira, 3 de junho de 2011

entre possível e inusitado

 

(1)





meu barquinho envelhecido

parte da interseção do horizonte

e tenta chegar em águas de novidade



salto contra a gravidade

invisto no impossível

no mínimo faço instantes inusitados



não gosto de um só suporte

do papel ou da página em branco.só

escrevo agora pelo avesso



As vezes penso em lírica subalterna, em verbo sempre no masculino a imperar ordens sobre o que escrevo e lembro de Bachelard, quando fala de sua busca pelo feminino das palavras. Então acalmo a pena e esqueço as tradições. Quero escorrescrever ou escrever em volteios escorregadios, sem deixar nenhuma rédea me guiar. Deixo a lírica ir à frente, para saltar sobre seus rastros e compor os meus no rumo que quiser. Os desenhos que minhas palavras formam ainda são hieróglifos pra mim. Não posso decifrá-los todos e nem quero. Há espaço no que escrevo para uma poética sem fim, feita de leituras alheias e de leituras que escrevem em outros idiomas e tintas.



rasgo de insensatez

estranha lucidez

quero assim minhas palavras





                                                                                                                    interseção

 

[Andréa do N. Mascarenhas Silva]


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(1) FONTE DA IMAGEM: http://www.flickr.com/photos/ljkay/3691323794/in/photostream

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