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À primeira vista, são dois termos aparentemente simples e fáceis de
escrever ou dizer. Não! Por trás desse par de palavras existe uma
atitude difícil de inspirar, formar, nascer, erguer e se sustentar,
fôlego que custa a passar pela garganta, enfrentar os lábios e o mundo
fora deles.
Salvo algumas louváveis iniciativas de iniciação e
fomento à literatura, desse lado nordestino do mapa, ainda não há uma
formação acadêmica, da graduação ao doutoramento, voltada para a escrita
artístico/literária, como já existe pelo mundo e no país, a exemplo da
PUC do Rio Grande do Sul.
Desde há muito, escrever, por aqui - na
Bahia, especificamente, é ofício quase sempre paralelo à carreira
jornalística e/ou docente. Fora dessas áreas, escritor@s autônom@s
costuram seus caminhos de escrita com muitos fios, pontos e nós, quase
sempre produzindo e custeando seus livros.
Dizer e se sentir
escritorA, sim, com esse A maiúsculo, em aberta simbologia à mulher e à
criação feminina, custa-nos caro há séculos. Sabemos, ao modo próprio de
cada experiência, o que tivemos/temos que aglutinar, abrir mão,
esquecer ou unicamente sonhar ao lado do esparso exercício da escrita,
não menos significativa por conta dos percalços enfrentados e dos tabus
paulatinamente derrubados.
Acredito que esta seja a primeira vez
que expresso publicamente a frase SOU ESCRITORA, pois as atitudes e os
atos de aprendiz de feiticeira - das artes mágicas da palavra -,
exercito desde setembro de 1995, quando estava na universidade,
conhecendo por dentro o mundo das Letras. A escrita informal e não
artística já praticava desde a adolescência, época dos diários, agendas e
cartas. Hoje, mesclo a escrita literária entre o papel/manuscrito, as
revistas e os espaços virtuais.
O verbo ser qualificado, que se
presentifica na frase, qualifica também cada ser que assume a
responsabilidade com a escrita artística. Sim! Trata-se de grande
compromisso humano a labuta de modelar palavras arredias, diuturnamente,
em e com ideias, pensamentos, imaginação, cores, contornos, pinceladas,
fazê-las outras, do avesso, cheias quando vazias, secas quando úmidas,
solares quando lunares, cortantes quando líricas, brandas quando
quentes, multidimensionais quando rasas, velhas e novas, (re)carregadas
de sentidos, simbologias, sons e silêncios...
Eis aqui uma
pequena demonstração do que o ofício e/ou a profissão de escritorA
requer do (e produz no) ser que toma pra si uma prática tão humana. Em
meio ao que escrevemos vamos nos modificando - leitorA, autorA, fuidorA.
E, letra a letra, escrevemos um mundo outro, com os outros.
Condição sine qua non para enfrentar a vida, a cada palavra
(re)modelada, a partir dos idiomas que tentamos domar, vamos nos
(re)modelando em seres humanos mais complexos, mais atentos e sensíveis:
ao tudo, ao nada, ao imperceptível, ao invisível, ao disfarçado, ao
camuflado, ao "óbvio", ao protocolar, ao informal, ao despretensioso, ao
velado, ao escondido, ao subliminar, ao maquiavelicamente inventado
etc., matérias que fazem morada, queiramos ou não, nas entrelinhas cada
vez mais autônomas d@s noss@s escrit@s viv@s.
Através desse texto
rendo tributo à Confraria Feminina de Poesia e Artes, associação da
qual faço parte, idealizada pela querida Confreira Rita Queiroz, que abre espaço para diversas mulheres - artistAs/escritorAs.
| SÊ.já escritorA |
Andréa do N. Mascarenhas Silva
03/12/2016
Professora
de Literatura (UNEB). Edita o Blog literário Arquivos.. impertinentes
(Blogspot). Classificou-se em 13º lugar no 'XII Festival de poesia,
crônica e conto' (Fund. Cultural de Imperatriz – Maranhão, 2001).
Ministra oficinas de criação literária. Publica prosa e verso em
veículos impressos e eletrônicos, nacionais e internacionais. Participa
do Dicionário de escritores contemporâneos da Bahia (2015) e da versão
eletrônica do Projeto Mapa da Palavra.BA 2016 (FUNCEB).
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(1) Imagem: https://www.facebook.com/549339315255685/photos/a.549347815254835.1073741828.549339315255685/559747770881506/?type=3&theater
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