segunda-feira, 24 de outubro de 2011

rar' efeito


 
 
 (1)



ar


anjos rodeiam minha noite sufocada 
angústias se escondem em minha sombra 
não há palco suficiente para encenar tantas dores 


escorrego sobre notas de vilania 
encontro espelhos que retorcem qualquer realidade 
minhas mãos congelam sem sentimentos 


amanhã não chega pra esse hoje 
no encalço do vazio vislumbro tempestades 
um sonho de cobras que se autoreproduzem me desperta em suspenso 

23.10.2011





ramificar 


pelo caos vejo-me de longe 
devagar quando tudo corre 
penso no lamento e caminho, simplesmente 


(des)acelerar e pela contramão, porque essa redundância não me é demais 
fim de tarde me oferece luz em flor
com esse brilho atinando meus sentidos visto flores para o pensamento 


quero me espalhar, sobretudo por tuas idiossincrasias 
posso acompanhar o fluxo de tua memória exteriorizada 
faltam apenas mais uns dias para mergulhar em teus mistérios editados 

13.10.2011




braseiro 


lua chorosa de abril 
meninas olham pelas janelas a madrugada 
lençóis feito neve abandonados 


estalos de viv'alma espantada 
martírios postos ao leito de um rio quase seco 
ecos de nós soltos no estradeiro 


trago a chave velha da memória 
e uma garça solitária me enternece de passagem 
ao lado da estrada chafurdam a lama outros de nós 


percorro a via de revés 
elaboro meu pensamento mais contagiante 
existo no vácuo desse nosso encontro 

11.10.2011




[Andréa do Nascimento Mascarenhas Silva]
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quarta-feira, 5 de outubro de 2011

[ de ventos imaginários ]

(1)




réstias


palavras antigas arrastam tempo . signos me perseguem: movimentos de vácuo . estrelas me aproximam de teu brilho fosco . manhã aborta teus desesperos mais sutis . no descalabro da cidade perdes teu sonho de menino .

30.09.2011




vento


vestida de imaginário
arquiteto nossa praça
lá, valsas como quem amas


brisa me leva ao passado
nas escadas de um coreto
vestido branco e foto perdida


hoje teço lembranças com fios recentes
meus sapatos colorem a estrada
nela vamos juntos uma vez mais


madrugada nos espreita em frio
dentro da noite: encontros
não há mistérios... só vaticínios e, nossos passos

23.09.2011




mecenas


gestor -  meus carinhos
amante - meus pensamentos
domador - meu corpo


contemplador - meus sonhos
estranho observador
morador em mim


estrela cadente me leva
apaixonado - meus sorrisos
viajante - minhas.nossas memórias


condutor - meu trem imaginário

gosto de rever meus arquivos . também são teus e alheios . a cada "documento", aromas e músicas nos envolvem - presentes .

21.09.2011




atenta


grilo canta noite e meu amor
vagalume nos acende: íntimos segredos
umbuzeiro nos esconde de assombração


velas aquecem luar minguante que passa por nós
estalos mato a dentro
rastros de cobra - entardecer


frescor incita viagens
nosso trem ainda não partiu
e já estamos lá

20.09.2011




paisagem

flores na paisagem
limo verde.mar
suspiros, passado


ecos pele.a.pele
rotas q’ ultrapassam: mar
sentidos avançam
nossa insensatez


respingos: sentimento alheio
poças de lágrima - nós
em brilho.velho


de sangue escravo ancestral
reentrâncias de pedras nunca se lavam
ladeiras, intolerância


dor tão alheia e quão nossa
águas descem.sobem
memórias vão.e.vêm


mar, sentidos ultrapassam
sol abrasa
alma, ilusões esfaceladas

17.09.2011




aroma


muitos tempos passam aqui
agora não é tarde
nunca ainda não passou


instantes me esperam, já
há calma na cidade
vagam velhos fantasmas e ruas


é madrugada
feras caminham sorrateiras bem perto
cheiro de podre ou de mar


quente se torna em tudo
bafo se torna em nada
ar.ti.fi.ci.ais

14/09/2011




arquitetura


sonhos de ontem, sofrimento
os de hoje, vida


teço desejos em teu olhar:
percebes?


sob água quente
sertão novo
espreita


braço do rio
flerte engastado
nossos silêncios


mandacaru trepado em barriguda
lição de vida e malabarismo
estamos dentro da viagem


somos flor d' invernada
beijo de ponta.cabeça nos espera no ar
risco o abismo em furtacor


sou
seu riso despontado
no instante


à sombra do agora
espero chuva apear do galope com o vento
pra nos molhar

07.09.2011




vaga e lume


contentamento sem maquiagem
enigma que não se esconde
no corpo, morada do encontro


sei que posso viver de sonho
ainda há vírgula, distância necessária
conhecemos juntos outra forma de presença, além abraço

05.09.2011




aura


corpo se expande além de si (rumo ao outro/a), feito alma independente de morada . porta aberta ao toque . sinestesias compartilhadas pele.a.pele . convenções reinventadas no ainda irreconhecível universo dos gestos . olho finge ver apenas imagem dada . poética do olhar: insistência em compartilhar segredos, desvendar outros . por outra lógica - interlocução .

01.09.2011

 
 
(remodelados em 15/03/2017)


 
[Andréa do N. Mascarenhas Silva]
 
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(1) Imagem - http://www.flickr.com/photos/pfragoso/3039003859/

minha democracia

 

(1)




indefinida


nonsense . adrenalina inalienável . junções sem espartilho . aninhada nas dobras do tempo . tenho um ritmo que sobra dentro de outros, tempos que se desajustam no correr da vida que se pinta retilínea . aciono a câmera lenta diante das velocidades insanas . sigo ao contrário . sou da conta-mão . aprecio tudo que é diferente e tento entender suas razões . amanheço à noite, escureço pelo dia, estaciono quando a ordem é correr . insurgente: palavra que me cabe...

29.08.2011




navegar


onda da noite
perfil de madrugada
dorso sonhado

nau que avança de nossas memórias
frio sem alento que percorre o corpo
alma perdida...

Não! Posso ir conta a corrente, deixar o abismo prestes a me tragar, voltar para ir em outra direção. Aquela enseada ainda é só nossa, não é quimera e se faz possível sob o rumo de nossos passos, como um norte. Nisso acredito por inteiro. Vivo as custas do sonho que elaboro diariamente.

23.08.2011




MEU! Nosso... nostra.


Revejo alguns sentidos de posse. Não podemos ter as pessoas, apenas apreendê-las e ainda assim no rastro fátuo de um senso fugaz. Tenho apenas o toque equidistante de sensações que queremos em nós. Hoje percebi a cor da adrenalina que ainda me descompassa. Chegastes até mim pela veia.palavra. Nosso futuro possível passeou comigo ainda agora. Mar distante e que nos aproxima nem que seja no tempo de nossos desejos independentes, que trabalham à revelia de nossa razão falida.

22.08.2011



cor


de azul... é como se veste o ser que habita em mim . vejo-o não como Narciso, no espelho do rio . não tem luas, apenas a mesma face . entristece, anoitece sob capas de sorriso . passeia por arquivos vivos e dança na memória . com sapatos de outrora vence a distância das horas . faz morada no retrato e voa com o assobio . não o conheço bem ainda e me surpreende com ares de maravilha .

16.08.2011



[Andréa do N. Mascarenhas Silva]


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(1) Imagem - http://www.farfetch.com.br/shopping/women/item10080852.aspx